O Grupo
Asa Branca de Criminologia vem manifestar profunda indignação com a
maneira como as polícias pernambucanas vêm conduzindo as repressões
às manifestações de estudantes contra aumentos de tarifas dos
ônibus em Pernambuco.
Nosso
grupo está teórica e praticamente comprometido com um pensamento
que visa a continuada redução do Direito Penal na resolução de
conflitos em nossa sociedade, pois ele apenas reproduz dor e
sofrimento. A técnica utilizada pela justiça penal de retirar de
homens e mulheres a sua liberdade é essencialmente violenta e
incapaz de enfrentar os nossos problemas. E quando o Estado utiliza
essa técnica para acossar, amedrontar e arrefecer o protesto, a
democracia recebe um grande golpe.
A reação
absolutamente desproporcional das polícias pernambucanas aos
protestos dos dias 20 e 26 de junho, prendendo mais de seis
manifestantes por crimes os mais diversos, conduzindo-os a unidades
policiais de Operações Especiais, arbitrando fianças em valores
exorbitantes e impagáveis (de até dez mil reais) visam neutralizar
a onda de protestos que vêm tomando todo o Brasil e que também
tomou Pernambuco.
A
democracia se constrói nas ruas, onde os cidadãos levantam
livremente suas bandeiras e conduzem os processos de mudança;
retirá-los à força das ruas é prática afeita a regimes
ditatoriais, que não gostam de liberdade, não gostam de diálogo,
não gostam de protesto.
Criminalizar
o protesto é a forma mais covarde de tentar calar a indignação
daqueles que não estão dispostos assistir de seus sofás a história
acontecer, mas de construí-la ativamente. Aprisionar os
manifestantes é aprisionar suas almas, seus sonhos e seus projetos.
Isso não ocorrerá.
Ainda, a
atitude lamentável de monitorar estudantes, de mapear lideranças e
de buscar por sujeitos “perigosas” e “suspeitos” pelo que
pensam é um saudosismo perigoso, decadente e antidemocrático de um
sistema de repressão que não suporta a ideia de que as pessoas
pensem, reúnam-se, organizem-se e se manifestem. Nós não temos
saudade dos tempos em que não cantávamos a liberdade nas ruas e a
democracia não sucumbirá, pois as ruas já estão tomadas.
Assim,
repudiamos a prisão de mais de seis manifestantes; repudiamos as
fianças fixadas em valores exorbitantes e incapazes de serem pagos
pelos manifestantes presos, em sua maioria estudantes; repudiamos o
vigilantismo em busca de inimigos; repudiamos técnicas de regimes
ditatoriais de monitorar a vida de cidadãos em nome da segurança.
Repudiamos, enfim, quem criminaliza o protesto.
Manifestamos
toda a solidariedade aos colegas, amigos e amigas, alunos e alunas
que foram violentados muitas vezes quando não puderam protestar e
quando passaram algumas noites em nosso sistema carcerário, tão
trágico quanto ineficiente. Com eles, fomos todos violentados. Mas
seguiremos caminhando pela noite de nossa cidade, acendendo a
esperança e apagando a escuridão, pois o nosso povo acorda
novo, forte, alegre e cheio de paixão...